Aprovada em 5 vestibulares para Medicina nas instituições UNIFESP, UERJ, FAMERP, UFCSPA e UFAC

“O não eu já tenho, então tenho que correr atrás do Sim”

Aos 30 anos de idade, Libnah Leal Areias, natural de Toledo – PR, atualmente residindo em São Paulo – SP, conta como foi aprovada em 5 vestibulares para medicina nas instituições UNIFESP, UERJ, FAMERP, UFCSPA e UFAC.

Libnah conta que estudou 3 anos para entrar em medicina. Fez dois anos de cursinho e no terceiro ano decidiu que iria estudar em casa porque acreditava que precisava focar em áreas que ainda tinha dificuldades. Tomei essa decisão porque tinha ficado em listas de espera muito perto de ser chamada.

“percebi que precisava “aparar as arestas” do conhecimento que eu já possuía e aprimorar o que faltava.” 

No primeiro ano fez apenas o Enem e a UERJ, não passou, apesar de ter ficado bem classificada mesmo estado há no mínimo 5 anos sem estudar.
No segundo ano ficou em sexto na lista de espera da UFSJ, no Sisu do meio do ano, mas não foi chamada. No final do ano, prestou UERJ, UEPG, UNIFESP, FAG, PUC, e no SISU colocou a UFAC porque sua nota da redação do ENEM tinha sido muito baixa, não passou em nenhuma, mas ficou em sexto na UFAC e quinto na UERJ (detalhe: com a mesma nota do último candidato que entrou)
No terceiro ano tentou o vestibular da UFU do meio do ano e ficou em primeiro na lista de espera, porém, não foi chamada, prestou Unimontes, que não chegou a passar para a segunda fase, e UnB, em que ficou em oitavo lugar na lista de espera (lembrando que é considerado um dos vestibulares mais difíceis do Brasil) e não foi chamada.
Também colocou a UFAC no SISU do meio do ano, mas como a universidade estava em greve teve que esperar até ela voltar, ficou em 18o, classificação muito pior do que no ano anterior, mas foi chamada em outubro. Foi fazer a matricula, mas continuou a fazer os vestibulares do final do ano pois queria ficar mais perto da sua família, essa foi a primeira aprovação.
Fez o enem e foi muito bem e com uma ótima nota na redação que a deixou com uma boa média, colocou a UFCSPA e a UFPEL no SISU e foi chamada na primeira opção: UFCSPA, fez também a UEPG, a FAMEMA, a FAMERP, a UERJ e a UNIFESP. Ficou muito longe na UEPG e na FAMEMA, mas passou na FAMERP, UERJ e UNIFESP. No final tinha sido aprovada em 5 faculdades.

   “coisa que jamais imaginei que poderia acontecer”

      O que te fez escolher a medicina?

     Eu sinceramente não lembro muito bem o motivo de escolher medicina, pois decidi muito cedo, aos 10 anos já falava que queria ser médica. Ao longo do tempo percebi que a medicina seria a forma de deixar o meu nome na história (o que já dizia muito pequena), depois de uma graduação, percebi que essa história poderia ser apenas a de uma pessoa, mas que ela fosse significativa e de certa forma pudesse fazer a diferença na assistência de pessoas em situação de vulnerabilidade como ocorre no momento de doença. Esse é meu motivo de ainda persistir nesse sonho, mudar um pouquinho a forma de assistência medica, fazendo a diferença, tentar honrar o juramento que a todo ano inúmeros estudantes de medicina fazem ao se formar e muitas vezes esquecem, ou não o fazem com o coração. Além disso, honrar o mandamento que diz que devemos amar os nossos semelhantes, e a melhor forma é usar o meu dom, minha profissão em beneficio do outro.

Ser vestibulanda de medicina é conviver com a ideia de resultados, por vezes, nada satisfatórios, em algum momento pensou em desistir? O que a motivou a continuar?

Todos os anos pensei em desistir. Nos três anos eu passei pelo “processo de luto” pela não aprovação. Para mim eu sentia uma responsabilidade imensa em já ser formada, em já ser casada, em ainda não estar no mercado de trabalho. A sensação de inutilidade era imensa, mesmo que ninguém me cobrasse isso, me sentia assim. O que me motivava era meu esposo, em todo momento que dizia que ia desistir ele estava do meu lado e dizia para eu tentar só mais um ano, assim foi no final do primeiro e segundo ano. Ele sempre me dizia que os gastos comigo não eram gastos, mas sim investimento.

  Como lidar com uma reprovação? Há, em uma reprovação, algum benefício para o vestibulando?

Ao longo dessa jornada percebi que lidar com a reprovação é bem difícil, acho que não existe um modelo ideal ou único. No meu caso eu passava por um processo, que eu chamava de “processo de luto”, chorava, ficava no meu momento de depressão, assistia os filmes ou series que me inspiravam como: Mãos Talentosas: a historia de Ben Carson, Quase Deuses, Grey’s Anatomy que iam me tirando na “fossa”, e orava muito, o meu texto bíblico nesses períodos era o que está escrito em Lamentações 3:21: Senhor traga a memória aquilo que me dá esperança. Tinha um período de descanso também, em que não fazia nada relacionado a estudos. No ano seguinte, seria só mais um ano... A reprovação nos ensina a valorizar cada momento quando chegamos a universidade e como valeu a pena esperar pelo nome na lista de aprovados. Além disso, amadurecemos, aprendemos mais, eu percebi que se tivesse entrado na faculdade no meu primeiro ano de cursinho iria sofrer muito, pois não sabia tudo que precisava para estar lá, e nem tinha a maturidade para realmente estudar quando já estivesse lá.

Como era sua jornada de estudos na preparação para o vestibular?

No meu primeiro ano eu fiz cursinho e tinha aulas particulares de biologia e química, era em média umas 10 a 12 horas estudando todos os dias. No segundo ano também fiz cursinho, era integral então ficava das 7 as 21h no cursinho. Muito simulados e provas, redações e redações. No meu terceiro ano eu estudei em casa, precisava aparar as arestas que faltavam, e meu calo no sapato sempre foi matemática e física, matérias que sempre me derrubavam nos vestibulares, no ultimo ano decidi que ia aprendê-las nem que fosse a ultima coisa que fizesse (kkk), eu mantive uma disciplina de estudos mesmo em casa, acordava às 7h e começava a estudar às 7:30. Estudava duas matérias por dia e revezava a cada duas horas essas matérias, parava 13h para almoçar e voltava às 14h e depois só parava às 21 ou 22h. Para aprender matemática e física fiz dois semestres de específica em matemática em uma escola em Ponta Grossa e estudei online com um professor de Fortaleza, foi a melhor coisa que eu fiz. O meu ultimo ano de estudos foi excelente, consegui aumentar as minhas notas de matemática e física em mais que o dobro, além das outras matérias. Mas posso dizer que consegui isso com disciplina e dedicação.

Por que você escolheu a UNIFESP?

Eu já havia morado em São Paulo, foi aí que conheci a UNIFESP. Sabia que era uma das melhores do Brasil e queria muito estudar lá, não na USP como a maioria, mas também sabia que era muito difícil passar lá. Sempre fiz o vestibular como desencargo de consciência, quando vi meu nome na lista não tive duvida. Já tinha escolhido a UFCSPA que tinha saído o resultado antes, e sempre disse que só mudaria se fosse a UNIFESP. Ela fechou a lista de aprovações com chave de ouro.

  A idade causou alguma rejeição por parte dos demais alunos? Agressão moral, por exemplo.

Nunca tive problemas com outros alunos por causa de minha idade, pelo contrario, eu era um tipo de pessoa com quem os mais novos podiam contar nos momentos de aflição e desespero, contava as minhas experiências de vida, que acredito que de certa forma confortava um pouco a jornada de vestibulando.

  Foi difícil conciliar casamento com os estudos?

Sim. Como disse anteriormente, me considerava inútil, minha casa não era sempre a mais arrumadinha, porque ou eu estudava ou fazia as coisas em casa, meu esposo sempre me ajudava, mas na minha criação de interior eu aprendia que era minha responsabilidade. Além disso, sempre fui muito independente, trabalhava, depender me deixava de certa forma frustrada e um peso para meu esposo. Ele nunca me cobrou nada, mas em minha cabeça me sentia assim.

É possível passar em uma faculdade pública de medicina estudando em casa sozinha?

Sim, desde que se tenha disciplina e dedicação. Hoje as coisas estão muito mais acessíveis, na internet se encontra de tudo e mais um pouco para estudar, matérias de estudos riquíssimos e muito completos. Talvez se tenha um pouco de dificuldade se como eu não tenha tido uma boa base na escola (eu sempre fui aluna de escola publica). Eu acredito que nada é impossível para aquelas pessoas que realmente querem. Estudar para medicina é uma escolha e essa escolha tras uma série de responsabilidades, não é fácil, muito menos simples, medicina em universidade publica requer muito esforço, que muitas vezes só será recompensado na aprovação. Além disso, não espere que estudar um ano é suficiente, isso é muito raro para esse curso, é necessário encarar uma jornada longa e reconhecer que a cada ano há uma melhora no desempenho, se isso não acontecer, reveja o método de estudos, pois provavelmente não é o método mais adequado. Além disso, se a pessoa assim como eu tiver a chance de prestar varios vestibulares, recomendo que faça isso, nem sempre a prova que se esta fazendo é a prova certa para a gente, no meu caso, a prova da UEPG era um terror, o estilo de prova era muito diferente do que eu estava acostumada e fazê-la era sempre sofrível para mim, nos resultados sempre ficava muito longe na classificação, em compensação passei em outras.

  O que sentiu ao vestir o jaleco pela primeira vez?

É uma sensação inexplicável. Ver meu nome naquele jaleco me fez ficar arrepiada. Ainda vivo aquela fase de conto de fadas em que a gente não acredita que aquilo realmente esta acontecendo. É maravilhoso, fico olhando para o campus, para os prédios, as vezes me pego encantada durante as aulas e penso: meu Deus eu realmente estou aqui, isso realmente está acontecendo.

"A matemática e a física sempre me desanimaram porque eu nunca conseguia aprender, no ultimo ano foi a gota d’agua, eu prometi para mim mesma que ia aprender. Minhas notas nessas matérias nunca foram tão altas. A minha nota do ENEM no segundo ano foi muito baixa (620), isso me deixou muito mal e comecei a pensar que era péssima em redação, no terceiro ano de cursinho aquilo se tornou uma gigante que eu precisava derrubar, eu ficava muito tensa quando tinha que escrever. Também fiz especifica de redação presencial para me sentir mais confiante e no ENEM fiz 920."

Para você, o casamento e sua maturidade, contribuiu de que forma para sua aprovação nos vestibulares e durante o curso?

Me ajudaram a manter a disciplina e dedicação necessários para a minha aprovação, eu não podia mais brincar ou achar que tinha tempo para perder ao longo do processo. Agora, na faculdade, me fazem perceber o que realmente quero e como quero e preciso estudar para ser um profissional melhor. Não é apenas para a prova que eu estudo cada conteúdo, mas para a minha vida profissional, e isso muitas vezes os alunos que ingressam na faculdade demoram muito tempo para perceber.

Uma dica da Libnah para vestibulandos de medicina

"Se você realmente quer fazer medicina, não desista, a jornada é longa, mas vai valer a pena cada noite mal dormida, cada hora de estudo, cada momento de choro. Ouvir seus pais dizendo para os amigos que você passou em medicina, querer colar um adesivo no carro com  o nome do seu curso, assistir a sua primeira cirurgia, ver o coração bater pela primeira vez, fazer uma pesquisa cientifica, apresentar e participar do seu primeiro congresso médico, ir a sua primeira aula de anatomia, vestir o seu primeiro jaleco e ter seu nome escrito nele, ter o seu primeiro estetoscópio no pescoço. Nada paga essas emoções, nada paga a sensação de sonho realizado. E valorizar cada uma dessas conquistas também faz parte da maturidade adquirida ao longo da jornada de vestibulando. Daqui 10 anos essas coisas podem  ter se tornado banais ou cotidianas, mas você jamais esquecerá da primeira vez que fez cada uma delas."

Jogo Rápido

Família é: "Meu Alicerce"

Deus é: "O Soberano em minha vida. O maior e mais importante na minha existência, que possui o amor maior por mim. O meu amigo".

Amigos são: "Mais chegados que irmãos".

Me irrito quando: "Vejo injustiças"

Me encanto : "Quando as coisas são feitas com amor e carinho".

Libnah por Libnah: 

"Acredito que sou uma pessoa batalhadora. A minha historia poderia ser muito diferente dessa que estou contando hoje, uma garota que estudou em uma escola publica rural do interior do Paraná, filha de agricultores muito pobres e com pouca instrução, talvez jamais tivesse a chance de estar onde está, mas contra tudo, contra todas as perspectivas desfavoráveis, com pouca oportunidade, consegui vencer as circunstancias e estar em uma das melhores universidades do Brasil. Saí de casa com apenas 17 anos para realizar um sonho, que demorou para se concretizar, sofri muito, muitas dificuldades, muitos obstáculos, tive que abrir mão do sonho porque não conseguiria me manter sozinha fazendo cursinho, pois meus pais não conseguiam mais me ajudar, entrei em obstetrícia porque precisava conciliar trabalho e faculdade. Posso dizer também que sou teimosa com os meus objetivos, e não desisto tão fácil assim. Quando estava no terceiro ano de minha primeira graduação, já estava conformada de ser uma obstetriz. Deus me deu mais uma chance de tentar e foi difícil, mas mesmo assim não desisti, entrei aos 30 anos em Medicina. Realizei o meu maior sonho, desde que saí de casa foram 13 anos para realizá-lo, mas valeu a pena."